Márcia Evangelista
KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço está sendo usada, mais uma vez, como bode expiatório para denúncias infundadas contra populações sujeitas a preconceito social e racial e sob ameaça de deslocamento compulsório, agora ao custo de argumentos ambientais sustentados na desinformação.
Uma série de matérias jornalísticas e de opinião contrárias à permanência da comunidade do Horto (bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro – RJ) em suas terras, publicadas pelo “O Globo”, “Extra” e o “O Estado de São Paulo” (versões impressas e virtuais) nos primeiros dias de dezembro, optam pela difamação e difusão de mentiras e pelo tom de denúncia, com base em informações deturpadas retiradas de ante-projeto elaborado por KOINONIA, por solicitação da AMAHOR ( Associação de Moradores do Horto).
Já estamos acostumados com matérias irresponsáveis desse tipo, que juntam meias-verdades com inverdades para repetir mentiras e sem nenhum espaço para outras perspectivas sobre o mesmo tema. Estamos acostumados a ver nosso direito de resposta negado. Estamos acostumados a sermos citados sem sermos devidamente entrevistados ou consultados.
Nessas matérias difunde-se que:
- KOINONIA teria sede em Greenville, na Carolina do Norte (EUA). Na realidade somos uma associação sem fins lucrativos brasileira, sediada no Rio de Janeiro – RJ, como pode ser visto no nosso site www.koinonia.org.br.
- KOINONIA teria por objetivo “entronizar as invasões do Jardim Botânico”. A situação dos moradores não caracteriza invasões, mas ocupações cujo início remete há quase um século, tendo origem em formas variadas e legitimas, que só há poucos anos começaram a ser questionadas pela administração do Jardim Botânico.
- O Museu do Horto “Tem R$ 1,8 milhão para se instalar e quase a metade de seu orçamento reservada ao pagamento do pessoal que, mesmo trabalhando pela causa, não é de ferro”. Na verdade não há qualquer financiamento aprovado. E se tivesse, implicaria, de fato, no pagamento de um grande grupo de especialistas profissionais em atividades temporárias, que, como qualquer trabalhador, inclusive articulista de jornal, deve ser adequadamente remunerado por seus serviços.
- KOINONIA é financiada por “até um Fundo Mundial para o Socorro dos Primatas”. Neste caso, o arremedo de pesquisa realizada pelo competente jornalista erra na tradução, dando um tom cômico à tragédia: trata-se do “Primate’s World Relief and Development Fund – PWRDF (www.pwrdf.org) que, em bom português, seria melhor traduzido como Fundo Mundial do Primaz (da Igreja Anglicana do Canadá) para Ajuda Humanitária e Desenvolvimento.
- KOINONIA apoiaria “não é de hoje, “grupos histórica e culturalmente vulneráveis para todas vocações catequéticas”. Aqui vale uma nota sobre a ignorância do jornalista sobre o significado do Movimento Ecumênico, que não inclui qualquer tipo de atuação catequética ou proselitista, mas justo a promoção da convivência e do diálogo entre as religiões. Além disso, a palavra grega koinonia (comunhão) é de livre uso, sendo utilizada até mesmo por churrascarias de beira de estrada, que não são de propriedade da nossa associação sem fins lucrativos. Essa ignorância, aliás, deve ser a fonte dos erros grosseiros que nos atribuem sede na Carolina do Norte e a idéia de que somos “uma igreja em movimento pelo, para e via o poder de Deus”.
- KOINONIA “Instalou-se como tal no Brasil em 1994”. Na realidade, KOINONIA foi fundada nesse ano por brasileiras e brasileiros de diferentes tradições religiosas com longa tradição na luta pelo fim da ditadura e pela democracia no Brasil.
- KOINONIA teria prometido à candidata Dilma Rousseff “o apoio da “População Negra” e agendado com a candidata um encontro formal com os representantes nacionais do Povo Tradicional de Terreiro, após as eleições”. Nesse caso, o articulista toma como palavras da instituição os termos de um dos vários documentos de organizações religiosas divulgados no site da instituição, justamente em seu trabalho de dar espaço para manifestações bloqueadas pela grande mídia.
- KOINONIA teria “um pacto de apoio incondicional à titulação fundiária dos quilombos, em sua acepção mais vaga – a da semântica antropológica, que ultimamente passou a considerar quilombo tudo o que se diz quilombo”. Na verdade KOINONIA tem um compromisso social com a causa quilombola, na forma pela qual ela se manifesta hoje, tanto na sua definição por parte do movimento social quanto nas pesquisas acadêmicas e na legislação vigente. Portanto, a definição de quilombo, aceita por KOINONIA, não é arbitrária, mas está submetida a uma série de critérios de legitimação que o jornalista poderia conhecer se tivesse interesse.
- “Talvez esteja em gestação um quilombo do Horto”. Sobre isso declaramos que KOINONIA não conhece nem apóia qualquer demanda dessa natureza no Horto.
10. “Por enquanto, a ideia do Museu do Horto está limitada a um site criado pela Associação de Moradores e Amigos do Horto (www.museudohorto.org.br)”. Aqui, finalmente, há a explicitação da má informação veiculada pelas matérias mencionadas, que implica na confusão entre duas iniciativas convergentes, porém, separadas. O projeto do Museu do Horto, que hoje está em funcionamento no citado site, não é de responsabilidade de KOINONIA, mas de pesquisadores ligados ao IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus). O ante-projeto preparado por KOINONIA para a AMAHOR implica em outras intervenções, além do apoio ao Museu: projetos de contenção de encostas, paisagísticos, de ajuste ambiental, inclusão digital e geração de renda, e melhoria da qualidade de ensino nas escolas que atendem à população.
Tais confusões parecem ter um mesmo objetivo: apresentar na forma de denúncia um projeto de promoção social e ajuste ambiental justamente para inviabilizar a aprovação de seu financiamento e sua realização final.
Nestes tempos de ocupação policial-militar e necessidade de chegada do Estado às comunidades que, por mais de 30 anos estiveram largadas ao desmando, era de se esperar que iniciativas de comunidades urbanas para conterem o crescimento desordenado, garantir uma convivência ecológica com a natureza em seu entorno e conceber uma urbanização humana e respeitosa, fossem elogiados.
A apresentação de um fantasma no Jardim Botânico, na forma de um Museu, aponta para o pânico generalizado que a cobertura jornalística promove na atual ocupação do Complexo do Alemão. São todas comunidades que estão “onde não deveriam estar”, segundo estes meios de comunicação que não são formadores de opinião, mas monopolizadores dos meios de produzir opinião. Denuncia-se um propósito comunitário de convivência com o meio ambiente, de educação qualificada e de projeto de cidadania como se fosse um demônio a ser exorcizado, e junto com ele, toda a comunidade e seus amigos.
As únicas acusações que KOINONIA aceita são as de estar ao lado de quilombolas, de negros e de terreiros de candomblé. Acusações como essas só confirmam que estamos do lado e no caminho certos.
Rafael Soares de Oliveira
Diretor Executivo de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço
LINKS MATÉRIAS
O GLOBO em 01/12/2010
O GLOBO em 02/1’2/2010: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2010/12/02/pt-rj-vai-discutir-conflito-fundiario-entre-horto-jardim-botanico-923168539.asp
BLOG DO RICARDO NOBLAT em 07/12/2010 – Texto de MARCOS SÁ:
JORNAL ESTADÃO – MARCOS SÁ CORREA em -3/12/2010:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101203/not_imp648831,0.php
JORNAL EXTRA em 01/12/2010