Márcia Evangelista
Segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IIBGE), apenas 0,3% da população geral do país (525 mil pessoas) se declaram praticantes de religiões de matrizes africanas, sejam elas o candomblé, a umbanda, o omolocô, o tambor de mina, o batuque entre outros elementos que formam o grande mosaico da religiosidade brasileira que se origina no continente africano. É interessante notar, no entanto, que festas como as de Yemanjá, tanto no Rio quanto em Salvador, as caminhadas que a cada ano se ampliam em todo o país, os dizeres e crendices populares, a literatura, o cinema e a TV, entre tantas outras manifestações brasileiras reconhecem não só a existência da religiosidade de matriz africana como, também, mobilizam milhares, às vezes milhões de pessoas em torno de um festejo, da entrega de oferendas, do vestir-se de branco e do uso de fios-de-contas.
Visando resgatar a auto-estima do praticante de religião de matriz africana e dar visibilidade maior ao número de praticantes em todo o país, o Coletivo de Entidades Negras (CEN) lançou na semana do 20 de novembro de 2009, durante a I Caminhada Nacional Pela Vida e Liberdade Religiosa, em Salvador, Bahia, com o apoio de diversas outras organizações sociais do Movimento Negro, a campanhaQuem é de Axé diz que é!
Neste Censo, declare seu amor ao seu Orixá/Diga que é do Santo, diga que é do Gunzu, diga que é do Axé/Pois quem é de Umbanda, quem é de Candomblé/Não pode ter vergonha, tem que dizer que é!
A Campanha “Quem é de Axé diz que é” tem como objetivo a auto-identificação dos adeptos das religiões de matriz africana para o Censo de 2010, corrigindo os números divulgados no último censo 2000, onde os indicadores apontam uma queda abrupta com relação à população de Umbanda e Candomblé.
Os dados do último censo mostram que apenas 0,3% da população brasileira se identificam como sendo de religião Afro-brasileira, como mostram os números abaixo:
Indicadores do Censo 2000:
Católicos: 73,7%
Evangélicos: 15,4%
Espíritas: 1,4%
Afro-brasileiros: 0,3%
Outras religiões: 1,8%
Sem religião: 7,3%
O CEN acredita que esta campanha possibilitará uma alteração substancial nos números do Censo e, ao mesmo tempo, dará elementos para que novas políticas públicas sejam criadas especificamente para o povo-de-santo, uma vez que, havendo uma real impressão sobre a totalidade de praticantes no país, se terão elementos à mão para formular e aplicar estas novas políticas.
Para o CEN, a campanha Quem é de Axé diz que é!’será um passo importante também para o combate à intolerância religiosa uma vez que ao assumir sua religiosidade, seu praticante, tendo sua auto-estima elevada, adotará cada vez mais os elementos visíveis desta afirmação de identidade e, ao mesmo tempo constrangerá aqueles que fazem da intolerância ou do desrespeito religioso uma ação cotidiana.
A campanha tem a promoção do Coletivo de Entidades Negras e conta com o apoio da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Seppir e da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, através da Superintendência de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos.
Com informações do Coletivo de Entidades Negras (CEN)