Márcia Evangelista
No último dia 16 de outubro aconteceu uma reunião de trabalho reunindo 22 representantes de comunidades quilombolas de Camamu, com representantes do Programa Egbé, de KOINONIA, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Sasop. O principal tema de debate foi a necessidade dessas comunidades, conscientes de seus direitos, se fazerem representar nos espaços de decisão sobre políticas públicas. Esse debate, que já vinha acontecendo há mais tempo, ganhou urgência frente à proposta do IES – Instituto de Economia Solidária – de criar uma Federação de todas as 82 associações, rurais e urbanas, do município de Camamu, a fim de representá-las inclusive na captação de recursos federais, estaduais e municipais. As comunidades quilombolas consideram que a organização deve partir delas mesmas e que, por serem quilombolas, têm acesso diferenciado a essas políticas. Os representantes quilombolas consideram que a proposta do IES não foi discutida com eles, é uma coisa que já vem pronta, na contramão do caminho que essas comunidades vêm construindo.
Os representantes quilombolas também se queixaram de que os cadastros para aplicação de políticas públicas e de acesso a projetos do governo, como o de moradia, continuam sendo feitos sem contar com o apoio e a revisão das associações, o que tem gerado uma série de problemas. “Na hora de discutir identidade quilombola, o que isso significa, e a questão da demarcação das terras e do título coletivo, tem gente que não quer; mas na hora de entrar para o cadastro dos benefícios, todos querem”, comentaram algumas das lideranças presentes. Os presidentes das associações já se reuniram com a Secretária de Ação Social do município, mas pouca coisa do que foi acordado efetivamente avançou. Por isso, eles tinham, naquela mesma tarde do dia 16, nova reunião com a Secretária, na qual pretendiam firmar os acordos de participação das associações na elaboração dos cadastros em busca de benefícios para as comunidades quilombolas.
Por outro lado, na organização territorial foi criado um Eixo Quilombola, do qual Koinonia participa como entidade de assessoria. Para avançar de forma propositiva, ficou então acordado a realização de uma reunião de trabalho desse Eixo, para traçar os rumos do trabalho e suas prioridades, para o dia 23 de novembro, na sede do STR Camamu. Para esta reunião, serão convidadas também a AMUBS e a Secretaria de Ação Social. A idéia é que desta reunião saia um primeiro plano de trabalho para o Eixo Quilombola do Território da Cidadania do Baixo Sul.
Por Mara Vanessa Duarte, Coordenadora pedagógica do Programa Egbé