Comunidades Negras Tradicionais em desenvolvimento

Helena Costa

Co-financiado pela União Européia, Christian Aid e EED, o projeto “Capacitação e Apoio ao desenvolvimento das Comunidades Negras tradicionais do Brasil” teve início em 2007, visando comunidades de Terreiros de Candomblé em Salvador e comunidades negras litorâneas no sul do estado da Bahia. Trouxe grandes desafios para equipe, mas também surpresas positivas e  grande satisfação na avaliação dos objetivos alcançados.

 

Artes, ofícios, direitos

Junto aos dez Terreiros de Candomblé foram desenvolvidas oficinas de artes e ofícios que procuraram resgatar saberes tradicionais da cultura do Candomblé, oferecendo também alternativas de geração de renda para os e as participantes. A estrutura das oficinas, que envolveu terreiros próximos e também a população leiga vizinha, ampliou e intensificou as relações entre terreiros e as comunidades próximas. Foram realizadas também oficinas especiais em direitos, sobre saúde e elaboração de projetos.

Foi feita uma pesquisa que estabeleceu um marco inicial do projeto para as comunidades, “marco zero”, tomando-se como referência o mês de fevereiro de 2007, para posteriormente avaliar os resultados qualitativos alcançados nos dois ciclos capacitação ao longo de 2007, e também durante todo o projeto. Na primeira análise desse instrumento já é possível observar uma primeira evolução das Comunidades quanto às suas capacidades de envolvimento com o bairro, promoção de ações por direitos de forma continuada e acúmulo de saber tradicional afro. Além disso, destaca-se a abertura alcançada no contato com pessoas de outras religiões, contribuição extremamente eficaz para a redução da intolerância religiosa.

Os dois ciclos de capacitação –  o primeiro iniciado em abril e o outro em julho – tiveram um público de 451 pessoas, sendo 282 pessoas nas oficinas de artes & ofícios e elaboração de projetos (206 mulheres e 76 homens), mais 169 participantes em oficinas especiais de direitos. A média de freqüência dessas oficinas foi de 78,19%. As oficinas de elaboração de projetos atingiram 18 comunidades de Terreiros. Houve também mais uma turma de 15 mulheres realizando uma segunda oficina de corte e Costura na casa Branca (continuidade do trabalho – efeito da primeira oficina). Os responsáveis agentes somaram 57 agentes entre aqueles de desenvolvimento local, e agentes de desenvolvimento inter-terreiros: jovens, de saúde e especialistas tradicionais.

 

Novas perspectivas

Quanto às comunidades litorâneas, o contexto local na região de Camamu e adjacências trouxe novas articulações que apresentaram um potencial maior de sustentabilidade para o futuro. Assim, ao invés de trabalhar com quatro comunidades, como o planejado inicialmente, serão vinte e duas dos municípios de Camamu, Nilo Peçanha e Igrapiúna.

 

Os encontros realizados foram quatro ao longo do ano –  em abril, julho, agosto e novembro. Na última do ano, em Camamu, estiveram presentes 75 lideranças de mais de 22 comunidades, e um dos temas abordados foram os direitos territoriais, para qual foi utilizada a cartilha produzida por KOINONIA sobre o tema.

 

Por mais significativos que possam ser números e tabelas, é na fala direta e simples dos participantes que se pode registrar a validade do trabalho. Depoimentos como o colhido na oficina de culinária: “Aprendi receitas maravilhosas naturais, resgatando as origens dos antepassados e não só comida”. Ou a declaração de uma aluna: “Senti-me honrada por estar somando com o grupo. Resgatando as nossas origens do nosso povo…” Ou ainda na fala de quem se descobriu capaz de fazer arte resgatando um ofício ancestral: “Descobri, através da arte, expressar o meu sentimento”.

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