Artigo: Mara Vanessa Dutra / Chamada da página inicial: Manoela Vianna
Oficinas – espaços de construções e de revelações
(Gisélia Maria P. da Silva, aluna da oficina de bordado do Terreiro de São Roque).
Muitas alunas das diferentes oficinas de bordado que têm acontecido nos Terreiros, no trabalho em parceria com KOINONIA, têm dado esse tipo de depoimento. Algumas começam a vir pela farra, outras para se ocupar, outras por curiosidade, outras ainda para acompanhar a mãe ou a irmã, e de repente, acontece: descobrem um ambiente novo, um trabalho criativo e gostoso de fazer, descobrem seu próprio talento, se divertem, fazem amizades, conversam, riem e começam até a ganhar dinheiro com encomendas.
As oficinas que buscam revitalizar conhecimentos tradicionais do povo de santo tiveram início em abril deste ano, como parte do projeto “Capacitação e apoio ao desenvolvimento de comunidades negras tradicionais”, desenvolvido pelo Programa Egbé Territórios Negros com co-financiamento da União Européia. De abril a julho, foram realizadas oficinas em cinco terreiros; a partir de agosto, começou novo ciclo, em cinco outros – Vintém de Prata, Jauá, Omin J´Obá, Taoyá Loni e Manso Dandalungua Cocuazenza. As oficinas são abertas para o público do próprio Terreiro, da comunidade vizinha e recebem também pessoas de outros Terreiros.
Nessa segunda rodada, têm acontecido oficinas de entalhe em madeira, de toque, canto e dança, e de bordado, além de nova turma de corte e costura na Casa Branca; mas a tônica tem sido mesmo o trabalho com bainha aberta. Um tipo de habilidade muito necessária para a elaboração de roupas para o candomblé; exige concentração, continuidade, mas, segundo várias alunas das diferentes oficinas, dá muito prazer. “A gente sente que consegue fazer uma coisa que parecia difícil, e fica feliz”, explica uma das alunas do Taoyá Loni.
Elas falam do aumento da auto-estima. Meirejane, aluna no São Roque, emocionada, durante o encerramento da oficina, contou que tinha acabado de conseguir um emprego em que disputou a vaga com dois homens. E refletiu: “Homem não é fácil, mas pensei que, se tinha conseguido vencer a dificuldade do bordado, que eu até chorava em casa de noite pra conseguir fazer, se consegui isso, então ia também conseguir vencer a batalha com os dois homens e ter aquela vaga”. Interessante observar que há alunos homens fazendo cursos de bordado e alunas mulheres fazendo o curso de entalhe
Muitas falam das encomendas que começaram a receber antes mesmo de terminar o curso. Todas têm planos de seguir trabalhando, complementando a renda familiar com o bordado. Algumas começam a pensar na idéia de trabalhar
Saúde, cidadania, meio ambiente, história, memória: conhecendo os direitos
Entre o bordado, a dança, o toque, o entalhe, a costura, acontecem também momentos de conversas sobre saúde, sobre cidadania, sobre intolerância religiosa, sobre direitos civis, sobre direito à memória, sobre histórias de vida das pessoas, sobre o meio ambiente, sobre o Terreiro, sobre o bairro… São oficinas especiais, muitas delas realizadas pelas multiplicadoras formadas por KOINONIA. São momentos em que se abrem debates super interessantes e se fazem compromissos comuns – por exemplo, ações que podem ser feitas para zelar pelo meio ambiente no terreiro e no bairro.
Preparando a continuidade
A segunda turma de Planejamento e Elaboração de Projetos, realizada por KOINONIA em parceria com a CESE, terminou a oficina dia 10 de novembro. São pessoas escolhidas pelos Terreiros para aprender a trabalhar com as ferramentas de planejamento e o resultado da oficina são projetos reais elaborados, trazendo o que os Terreiros querem fazer para dar continuidade ao trabalho. A proposta de KOINONIA é apoiar na preparação dessas pessoas para que as casas tenham cada vez mais autonomia para elaborar, negociar e gerir seus próprios projetos.