A Fundação Rosa Luxemburgo e a editora Expressão Popular lançam o livro “Horizontes Amazônicos: para repensar o Brasil e o mundo” (2021), escrito por Bruno Malheiro, Carlos Walter Porto-Gonçalves e Fernando Michelotti.

O livro fala a partir de uma região, a Amazônia, que tem grande implicação e relevância para os destinos da vida no planeta que, atualmente, se vê ameaçado por um sistema histórico de morte, destruição e adoecimento: o capitalismo e sua tecnociência, o capitalismo e sua colonialidade. A Amazônia, por seu lado, nos oferece outros horizontes de sentido a essas histórias de destruição e geografias de colapso.

Se a floresta tem, pelo menos, 13 mil anos e a região é ocupada há 19 mil anos, um dos pontos de partida deste livro é a certeza de que a diversidade ecológica e biocultural da Amazônia, tão fundamental à vida no planeta, é o resultado de milênios de um sentir-pensar com a floresta dos amazônidas; com seus saberes de coletar, pescar, caçar, praticar agricultura, habitar, proteger, curar, cozinhar, comer e conviver.

Esses saberes se conectam a uma dinâmica metabólica em que um hectare de floresta produz de 40 a 70 toneladas de biomassa por ano, o que não se alcança com nenhuma monocultura, e foi um trunfo para múltiplos povos exercerem sua liberdade em um espaço cuja diversidade de espécies em um hectare é maior do que em toda a região de clima temperado do planeta.

Destacamos um trecho (pp. 213-214, capítulo “A Amazônia como patrimônio biocultural dos seus povos”):

Entre os povos originários é difícil encontrar algum sinônimo para natureza. Entre os povos andino-amazônicos, a palavra pachamama é o equivalente homeomórfico (Pannikar) mais próximo e, como equivalente, não é igual . Pacha é, simultaneamente, espaço-tempo, já que não existe uma palavra para espaço e outra para tempo (física quântica?) . Da pachamama fazem parte os humanos e não humanos, os lagos, os glaciares, a cordilheira, o mundo material e o imaterial . E são seres sencientes, seres que sentem, onde há antropomorfismo e não antropocentrismo . Até mesmo os deuses estão ali entre os mortais e, talvez por isso, esses povos não se sentem suficientemente poderosos para dominar os deuses como no antropocentrismo eeuurocêntrico, em que o homem domina uma natureza dessacralizada.

Talvez uma outra palavra nos ajude a entender a tamanha riqueza dos pensares indígenas amazônicos e tamanha pobreza de significação que o pensamento eeuurocêntrico oferece à natureza . A palavra é Hutukara, usada pelos xamãs Yanomami para denominar aquilo que talvez nossa língua entenda por mundo . Davi Kopenawa Yanomami ensina-nos que “a Hutukara fica junto com a pedra, terra, com a areia, o rio, o mar, o sol, a chuva e o vento.

Hutukara é um corpo, um corpo que é unido, ela não pode ficar separada [ . . . ] . Ela é uma grande casa, e nós estamos dentro do corpo dela [ . . . ] . Hutukara é nossa mãe, ela que deixa nascer” (Kopenawa; Gomes, 2015, p . 146).

O livro é gratuito e pode ser baixado diretamente no site da Fundação Rosa Luxemburgo ou no site da Editora Expressão Popular.