Natasha Arsenio
Em novembro de 2013, a Praça São Benedito, em Camamu, Bahia, foi tomada pela Feira Agroecológica das Mulheres do Baixo Sul Contra a Violência, que contou com a presença de comunidades e entidades da região.
O encontro teve o apoio de organizações como KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço, Articulação de Mulheres do Baixo Sul, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP) e Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves (EACMA). A Fundação Heinrich Böll foi uma das organizações que apoiou KOINONIA nesta iniciativa. Para conhecer todos os parceiros da instituição, clique aqui.
O evento promoveu a discussão sobre a violência contra mulher e abriu espaço para que o trabalho realizado pelas produtoras rurais da região pudesse ser reconhecido e valorizado por meio da venda de suas mercadorias. Enquanto isso, o diálogo foi constante. Todos puderam utilizar o espaço para dividir suas ideias, informações e experiências.
O sentimento de repúdio a atos violentos foi ressaltado pelas lideranças: “O objetivo de nossa feira não é somente a venda de produtos, mas também a discussão sobre a violência contra mulher. É importante lutar, denunciar e levar às ruas a nossa luta a favor das companheiras”, disse Marilene Santos Silva, eleita no ano passado como a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Camamu.
Ana Gualberto, assessora de KOINONIA, lembrou que o trabalho em conjunto faz a diferença nesta causa. “O sentimento de união é o que nos move, não podemos nos calar. Unidas somos fortes e precisamos mostrar isso. Quando queremos, nós podemos fazer a diferença”.
Os participantes puderam ainda acompanhar a mesa redonda que contou com a participação de Ana Celsa, do SASOP, Ana Gualberto, assessora de KOINONIA, Marilene Santos Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Camamu, Maria Helena Queiroz, do Centro de Referência de Valença, Marildes Neves, superintendente de Cultura de Valença, Magnólia Braga, do Movimento de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas CETA, Janira França, professora da EACMA e Nil, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O debate foi iniciado com a pergunta “o que é violência contra mulher?”, na intenção de alertar sobre a existência de outros tipos de agressão além da física. Outros pontos como a Lei Maria da Penha e o procedimento que deve ser adotado para denunciar abusos foram abordados pelas participantes.
Maria Helena Queiroz, do Centro de Referência de Valença, considera importante que a mulher repense seu próprio comportamento para que possa reivindicar seus direitos. Ela acredita que muitas vezes as mulheres são coniventes com ações cotidianas sem perceberem que estão concordando com abusos de gênero. “A violência contra nós está presente em músicas, propagandas, novelas. A todo instante somos agredidas e é importante perceber este fato e não concordar. Precisamos lutar por uma sociedade igualitária, sempre através do diálogo, o melhor caminho”.
Janira França concorda com a ideia de reflexão. Segundo ela, devemos pensar a respeito do espaço em que vivemos. “Como nossos filhos são educados? Como nos relacionamos com as pessoas com as quais convivemos? Por que a mulher negra é tratada de maneira diferente da mulher branca?”, questiona a professora da EACMA.
“Da mesma forma que nos acostumamos a chamar veneno de remédio” – disse Nil, do MST, se referindo aos agrotóxicos -, “nos acostumamos a abaixar a cabeça para o homem.”, complementando o raciocínio com a analogia da rotina da trabalhadora rural e a forma violenta que a mulher é tratada diariamente. Magnólia Braga, do CETA, partilha desta ideia e considera que as mulheres mostraram sua auto-sustentabilidade na feira. Segundo ela é importante que a mulher tenha a consciência de que pode ser o que quiser. “Somos donas de nossos destinos”, conclui.
Trabalho de conscientização no Baixo Sul
Nos últimos anos, a Articulação de Mulheres do Baixo Sul, formada por mulheres de diversos movimentos sociais, organizações e sindicatos, tem realizado atividades, além de participar de vários eventos, sempre discutindo temas que ainda geram exclusão e violência e lutando por melhores condições de vida para todas as mulheres e famílias do Baixo Sul da Bahia.
Em Camamu é possível conhecer melhor sobre a Articulação de Mulheres no Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e no SASOP.
Além disso, atendimento e orientação são prestados no Centro de Referência da Mulher (CRM) em Valença, na Praça 2 de Julho, nº 14, Centro ou pelo telefone (75) 3643-1601.
• Confira as fotos da Feira Agroecológica das Mulheres do Baixo Sul Contra a Violência.
• Conheça a campanha pública Amor Lança Fora Todo Medo.