KOINONIA participa do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso na Cúpula dos Povos em Belém, em paralelo à COP 30

Entre os dias 11 e 16 de novembro aconteceu, na cidade de Belém (PA), o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso, é uma articulação ecumênica e inter-religiosa que atua no enfrentamento aos fundamentalismos religiosos e políticos no contexto da Amazônia Legal. O TAPIRI é uma ponte entre fé, democracia e justiça climática, conectando comunidades de base, lideranças religiosas e movimentos sociais em um esforço conjunto por um futuro sustentável e inclusivo.

O evento aconteceu na Catedral Anglicana de Santa Maria e contou com a participação de lideranças religiosas de diversas tradições, povos indígenas, comunidades quilombolas, movimentos sociais, juventudes e organizações baseadas na fé. A articulação reforça a importância de integrar espiritualidade, território e ação coletiva no enfrentamento do racismo ambiental, religioso e das violações de direitos.

As atividades se deram a partir dos quatro eixos centrais da Cúpula dos Povos: Terra, Território e Soberania; Justiça Climática, Democracia e Direitos; Enfrentamento ao Racismo Religioso e Ambiental; Protagonismo de juventudes, crianças, adolescentes, mulheres e diversidades LGBTQIAPN+. Estes eixos representam um processo de articulação de lutas e resistência, com o objetivo de pressionar por metas climáticas mais ambiciosas e garantir que as vozes dos territórios e das periferias estejam no centro das decisões da Conferência do Clima.

No primeiro dia, 11.11, ocorreram 3 rodas de diálogo com os seguintes temas:

Roda 1: ‘’ A Cooperação Internacional para o desenvolvimento, desafios atuais e tendências : Panorama Atual das Políticas de Cooperação Internacional: União Europeia, EUA, China e o Papel das Fundações Privadas.’’ Mediação: Soraya Tupinambá ( PAD). Compuseram a mesa Aurélio Viana, Elisa Pessina, Renan Holanda e Jonathas Azevedo.

Roda 2 ‘’Estratégias Coletivas para Influenciar Políticas de Cooperação com as OSCs Brasileiras e o papel das redes e organizações da sociedade civil.’’ Facilitada por Waneska Bonfin (DIACONIA), esta roda promoveu o debate sobre as ações conjuntas para superar desafios e políticas de cooperação internacional.

Roda 3: ‘’Não há Justiça Climática sem justiça na comunicação’’, participaram os jornalistas Carlos Alexandre/AM, Daniela Pantoja/PA, Jéssica Santos/AM, Eanes Silva/CE, Janaína Souza/RR e Joelma Viana dos Santos/AM, oportunidade em que partilham a experiência do trabalho jornalístico na Amazônia Legal ressaltando a importância da oportunidade e da fala das próprias comunidades, inclusive, na produção do conteúdo jornalístico.

Roda 4: ‘’Vozes da Terra: Troca de Saberes Indígenas sobre Clima e a Sustentabilidade’’, mediada por Mary Joice, esta roda de diálogo contou com representações indígenas do Brasil, América Latina e Nova Zelândia que partilharam além da experiência local, um pouco dos cânticos da etnia Maori.

Ainda no primeiro dia teve o lançamento da publicação e do vídeo do ‘’Rio de Memórias Patak Maymu’’ ‘’Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos’’.

Na quarta-feira, 12.11, após a saudação de Mameto Nangetu e dos caciques da Aldeia Iskuyá Yuxibú foi iniciada a primeira mesa do evento intitulada Do Tapiri à Ação: ‘’Diálogos Inter-religiosos para Enfrentar o Racismo Ambiental, violações de direitos e Fortalecer a Participação Popular”, mediada por Bianca Daébs, Reverenda Anglicana e colaboradora da CESE, oportunidade em que foi apresentada a proposta do evento, o que é o Tapiri e quais são seus objetivos, e feita a leitura da Declaração e Organizações que compõem o Tapiri.

A palavra Tapiri é uma expressão indígena e foi escolhida por estar relacionada às tendas, que são frágeis e provisórias, mas abrigam pessoas desprendidas, que desejam viver na simplicidade daquilo que desejam viver na simplicidade daquilo que nossa mãe terra oferta com muito respeito.

Após a intervenção cultural realizada pela banda Suraras do Tapajós, veio a mesa “Justiça Climática, Democracia e Direito à Vida: Diálogos Inter-religiosos por Justiça ambiental”, coordenada por Pe. Dário Bossi (Red Iglesias y Minería) e participação de Dom Vicente Ferreira, Bispa Marinez Bassotto(IEAB), Pastor Josias Vieira (Nós da Criação), Luiz Felipe (OLMA), Felício Pontes (Procurador Geral da República e REPAM).

No turno da tarde, o promotor de justiça do Pará coordenou a mesa “Deslocamentos humanos na Amazônia: perspectiva da vida a partir das experiências dos refugiados, da sociedade civil e do governo em Belém-PA – Desafios, Oportunidades, Soluções e Ações que convidou Josefina Jimenez (Conselho Warao Ojiduna – CWO); Nesly Jean (Associação dos Haitianos em Belém – AHB-PA); Israel Hounsou (Instituto Hounsou de Integração África-Amazônia – Hafama ); Laura Garzon (Associação dos estudantes estrangeiros – AEE-UFPA); José Lopez (Instituto Venezuela Somos no Pará – IVSP); Samuel Medeiros (Comissão de Relações Internacionais – CRI- OAB/PA); Manuel Amaral (Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB); Profa. Dra. Ana Cláudia Carvalho (Igreja Anglicana Episcopal do Brasil – IEAB) e Larissa Martins (Comitê Municipal para Migrantes, Refugiados e Apátridas, Secretaria Executiva dos Direitos Humanos de Belém).

Na quinta-feira ocorreu a mesa 4: ‘’Água, Terra e Soberania: Como Grandes Projetos e Mudanças Climáticas Ameaçam Povos Indígenas e Tradicionais – Resistência, Agroecologia e Reparação na Amazônia, América Latina e Oceania‘’, mediada por Rodrigo Espiuca – IEAB e participação de Suzan – Povo Maori (Nova Zelândia), membra da Comunhão Anglicana, Josana Serrão (Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais/Santarém – REPAM), Soraya Tupinambá ( PAD/Brasil) e Luene Karipuna da APOIANP.

A tarde ocorreu a mesa , “Terra, Axé e Resistência: Racismo Religioso e Ambiental, Megaprojetos e a Luta por Soberania nos Terreiros e Territórios Quilombolas do Brasil’’, mediada por Marcella Gomez ( CESE) e participação de Joércio Pires da Silva (Quilombo Santa Rosa dos Pretos –Itapecuru Mirim/MA), – Rita Lopes (Quilombo Rio Preto – Lagoa do Tocantins/TO), Juliana Soares (FLD), Mameto Nangetu (Instituto Nangetu/PA) e Mãe Carmem Sheila -FONSAMPOTMA e Instituto Afrobrasileiro Conceição (AP), Mãe Nalva de Oxum – Ilê Axé Yabá Omí/PA e Aondê Yra Airequecê – Alta Sacerdotisa Wicca da Tradição Diânica do Brasil.

No final da tarde os participantes do evento foram convidados para participar da Caminhada e Vigília pela Terra que aconteceu na Praça Batista Campos e se estendeu ao longo da noite com apresentações culturais e falas de representações religiosas.

Na sexta-feira, .15.11, ocorreram as mesas Do Presente ao Futuro: Juventude, Mulheres e LGBTQIAPN+ na Luta por Justiça Climática e Reparação Social: Como as Mudanças Climáticas Aprofundam Desigualdades e Exigem Respostas Urgentes no Brasil’’, mediada por Paulo Ricardo Sampaio – ISER e com participação e Amanda Simpatia (REDA/ 100 mil Jovens pela Água), Breno Vinicius (Coletivo Somar LGBTQIA+/RO), Sara Braga – CPT – Acre Nelita Frank(AMB/RR), Elton Carvalho – Levante da Juventude Roraima e Wanen Kanamari (COIAB). Esta mesa colocou em evidência as ações de jovens e mulheres em defesa do meio ambiente e justiça social. A segunda mesa da tarde “Justiça Climática e Direitos na Amazônia: Como Organizações Podem contribuir para Enfrentar Violações, Racismo Ambiental e Garantir Participação Popular?”mediada por Vinicius Benites (CESE), contou com a participação de Martha Jarvis (ACC/ONU), Moema Miranda (Igreja e Mineria), Elianildo Nascimento(URI), Alcidema Magalhães – (Comitê Dorothy), Goreth Dunningham(Brahma kumaris) e Athena Peralta – Conselho Mundial de Igrejas- CMI , Socorro Chaves (UFAM e Renovar Nosso Mundo), Dr. Raimundo Moraes – Membro do Ministério Público do Pará. A intervenção cultural foi conduzida pela banda do MST chamada Rebeldia Cabana.

No sábado, durante todo o período da manhã, ocorreu a Marcha da Cúpula dos Povos que saiu do Mercado São Brás até o Parque da Cidade, em Belém. No turno da tarde aconteceu a mesa 8: ‘’Fé, Justiça Climática e Democracia: Caminhos Ecumênicos para Enfrentar o Racismo Ambiental e Garantir Direitos’’, mediada por Maíra Fernandes de Melo -URI, com a participação de Paulo Ueti (IEAB), Luiz Felipe B. Lacerda (OLMA), Neddy Astudillo, Rede de Fé Latino-americana pela Justiça Climática), Sônia Mota (CESE), José Vitor (Movimento Negro Evangélico), Camila Chagas (KOINONIA) e Cibele Kuss (FLD). Ao final foi lido o documento do Tapíri. Após ocorreram diversos lançamentos de publicações, vídeos etc.

As atividades do Tapiri se encerram no domingo, 16.11, com a Celebração Ecumênica e inter-religiosa na Catedral Anglicana de Santa Maria.



Organizações que integram o Tapiri:

CESE (Coordenação)

ACT Alliance

Aliança de Batistas do Brasil (ABB)

Associação Alternativa Terrazul

Associação Mundial de Comunicadores Cristãos (WACC)

Associação Nacional Por Uma Economia de Comunhão

Brahma Kumaris

Casa da Paz

Casa das Religiões Unidas

Catedral Anglicana de Santa Maria (IEAB-DAA) /PA

Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)/PA

Centro Social Casa Irmã Joselha

Christian AID

Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB)

Comissão de Incidência Pública, Direitos Humanos e

Combate ao Racismo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil

Comitê Dorothy Stang

Comitê Inter-religioso do Pará

Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC)

Conselho Mundial de Igrejas Cristãs (CMI)

Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)

Diocese Anglicana da Amazônia

Diocese Anglicana de Brasília

Fé no Clima/Instituto de Estudos da Religião (ISER)

FEACT Brasil

Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito /PA

Fundação Luterana de Diaconia (FLD)

Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB)

Igreja Presbiteriana Unida (IPU)

Iniciativa das Religiões Unidas (URI)

Instituto Afro-brasileiro e Cultural ACIYOMI

Jesuítas Brasil

KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço

Movimento Laudato Si

Movimento Renovar Nosso Mundo Brasil

Nós da Criação

Núcleo Lux Mundi (CRB/CNBB)

Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano

Mendes de Almeida (OLMA)

Paróquia Evangélica de Confissão Luterana / PA

Primeira Igreja Presbiteriana Unida da Amazônia

Processo de Diálogo e Articulação (PAD)

Projeto Curupira

Rede Ecumênica da Água (REDA)

Rede Amazonizar

Rede Igrejas e Mineração

Renovar Nosso Mundo

REPAM Brasil

Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia (SINFRAJUPE)

Teia dos Povos

Terreiro Mansu Mansumbandu Kenkue Neta

United Society Partners in the Gospel (USPG)





Documento Final do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso

Nós, representantes de Organizações Baseadas na Fé, Igrejas Cristãs, Espiritualidades Indígenas, Povos de Terreiro, Povos e Comunidades Tradicionais, Povos Originários do Brasil, América Latina e Oceania, Comunidades Quilombolas, Mulheres, Juventudes, população LGBTQIAPN+ e diversos movimentos sociais, reunidos no Tapiri Ecumênico e Inter-religioso, na Catedral Anglicana de Santa Maria, durante a COP30 em Belém (PA), denunciamos:

Vivemos uma emergência climática global, fruto de um sistema econômico que coloca o lucro acima da vida. Esse modelo insustentável de produção e consumo explora pessoas, territórios e a natureza, aprofundando injustiças sociais e ambientais e alimentando desigualdades de raça, etnia e gênero — expressões concretas do racismo ambiental.

Em nossa caminhada de diálogo pelos nove estados da Amazônia Legal, entre 2022 e , testemunhamos como fundamentalismos religiosos, políticos e econômicos se articulam para violar territórios, instrumentalizando pautas morais para justificar a retirada de direitos, o ataque às comunidades e a destruição socioambiental.

Diante dessa realidade, afirmamos:

  1. É urgente fortalecer e ampliar a aliança ecumênica e inter-religiosa comprometida com a defesa dos direitos humanos e socioambientais.

  2. A demarcação imediata das terras indígenas é essencial para garantir a vida, a cultura e a autonomia dos povos originários.

  3. A titulação dos territórios quilombolas é imprescindível para enfrentar a violência, o racismo e a grilagem.

  4. É fundamental assegurar o direito à terra e ao território para todos os povos e comunidades tradicionais do Brasil, garantindo a preservação de seus modos de vida, do meio ambiente e do sagrado ancestral.

  5. A proibição dos agrotóxicos é necessária para proteger solos, águas, alimentos e a vida das populações.

  6. A Reforma Agrária deve ser prioridade, fortalecendo a agricultura familiar e agroecológica diante do latifúndio e da monocultura.

  7. Projetos predatórios não podem ser mascarados como “transição energética”, como a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que ameaça ecossistemas vitais.

  8. É inaceitável a impunidade dos crimes ambientais, como Mariana e Brumadinho, que tratam vidas humanas e a natureza como áreas de sacrifício.

  9. A crise climática é atravessada pelo racismo ambiental, que atinge primeiro e com mais força mulheres indígenas, negras, do campo, das florestas, das águas e das periferias das cidades.

  10. A destruição dos biomas é uma ameaça global, e exige unidade dos povos para enfrentar a aliança entre capital, violência e desigualdade.

  11. Repudiamos a substituição da agenda de direitos por pautas morais, usadas por fundamentalismos para atacar mulheres e a população LGBTQIAPN+ enquanto liberam a devastação territorial para o agro-hidro-minério-negócio.

A partir desta declaração, compreendemos que os principais desafios para deter a crise climática incluem:

Reconhecer que a crise já está em curso, atingindo desigualmente povos e territórios.
Enfrentar teologias e interpretações religiosas instrumentalizadas pelo poder econômico, que justificam exploração e silenciam diante da injustiça.


Fortalecer comunidades de fé como espaços de resistência, acolhimento e prática socioambiental justa, combatendo o racismo ambiental e a marginalização dos mais vulneráveis.

– Estabelecer espaços permanentes de diálogo ecumênico, inter-religioso e intercultural nos territórios mais vulneráveis aos impactos climáticos.

– Potencializar o protagonismo das mulheres e da população LGBTQIAPN+, afirmando que para justiça socioambiental e climática se exige a superação do machismo e da pauta moral que violam suas existências e sexualidades.

– Incentivar ações mobilizadas pelas juventudes, bem como o diálogo geracional para a defesa de direitos.

Aprofundar o diálogo ecumênico e inter-religioso, transformando-o em ações concretas de cuidado com a Casa Comum.
Influenciar estruturas de poder e políticas públicas, denunciando a captura do Estado por interesses do agro-hidro-minério-negócio, da produção de energia suja, e propondo alternativas baseadas no bem viver.
Romper com a narrativa de que a natureza é apenas recurso, promovendo uma espiritualidade que reverencie a vida e dialogue com a sabedoria dos povos originários e tradicionais.

Como pessoas de fé, assumimos enfrentar esses desafios a partir de nossos lugares:

Em nossos templos e espaços de culto, incorporando a justiça socioambiental em liturgias, formações e práticas comunitárias.
Em nossos territórios, atuando em rede pela proteção dos biomas, apoiando demarcações e titulações e denunciando violações.
Em nosso cotidiano, mudando hábitos de consumo, apoiando economias locais e solidárias e reduzindo nossa pegada de carbono.

Na esfera pública, mobilizando nossa voz coletiva por políticas climáticas ambiciosas e pelo fim da impunidade ambiental.

Para que este encontro seja um marco de ação — e não apenas de reflexão — nós, participante do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso, assumimos publicamente o compromisso de:

Ser guardiãs e guardiões da Casa Comum, atuando a partir de nossas comunidades de fé para:
– Denunciar toda forma de injustiça e racismo socioambiental;
– Proteger territórios e povos que neles vivem;
– Transformar hábitos e estruturas que alimentam a crise climática;
– Salvaguardar a integridade da Criação, cuidando da Terra e promovendo sustentabilidade para as futuras gerações.

Que nossa fé seja semente de justiça e nossa ação, rios de esperança.

Tapiri Ecumênico e Inter-religioso – Cúpula dos Povos – COP30 – Belém, Pará | 11 a 16 de novembro de 2025


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