Conferência Enegrecer: negritudes para a igreja do amanhã

Inspirar novas lideranças, fortalecer as lideranças já estabelecidas e promover um espaço de encontro entre pessoas negras para discutir a construção de uma agenda político-teológica entre os evangélicos que influencie e inspire juventudes comprometidas com a justiça climática, o antirracismo e a democracia. Esses foram os objetivos centrais da  “Conferência Enegrecer: Negritudes para a igreja do amanhã”.

O encontro internacional, realizado de 18 a 21 de junho na Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo (SP), envolveu cerca de 12 estados brasileiros com a presença de pessoas e a participação institucional de mais de 60 igrejas e reuniu pensadores, teólogos e líderes religiosos negros do Brasil, das Américas e do continente africano. O sucesso da iniciativa foi a resposta de lideranças negras evangélicas na construção de documentos e ações programáticas dentro de um grande movimento de contranarrativa aos fundamentalismos na perspectiva de promover acolhimento e reconstrução a partir da teologia negra dentro do contexto evangélico. Também foi realizada a 4ª consulta nacional sobre teologia negra, marcando articulações, painéis e grupos de trabalho que pensaram teologias comprometidas com a justiça racial e social. 

Estiveram presentes representações de países como Angola, Estados Unidos, Colômbia, África do Sul e Cuba, trazendo para o debate algumas das vozes mais influentes do protestantismo negro global. Entre os destaques, Bronson Eliott e Tiffany Roberts, lideranças da Igreja Batista Ebenezer, a igreja de Martin Luther King; René August, reverenda sul-africana da Igreja Anglicana, que atuou ao lado do arcebispo Desmond Tutu, referência na luta contra o Apartheid; e Maricel Mena Lopez, afro-colombiana e primeira mulher negra a obter o título de doutora em teologia na América Latina.

Organizado pelo Movimento Negro Evangélico do Brasil, o evento contou com o apoio de diversas instituições, incluindo KOINONIA, representada pela colaboradora Lídia Maria de Lima, que participou do grupo de trabalho sobre racismo religioso e inter-religiosidade; e do Painel “Justiça plena para o povo negro: rompendo os muros do racismo religioso e da intolerância”, composto pela teóloga, o babalawo Ivanir dos Santos e o pastor Bruno Silva. 

A realização deste evento reitera o desejo de parte de uma parcela significativa da comunidade negra em contribuir para a construção de uma identidade negra evangélica, que enfrenta o fundamentalismo religioso, que hoje tem sido o movimento hegemônico nas igrejas evangélicas e se expressado como uma das maiores ameaças a implementação de políticas públicas efetivas que promovam equidade racial, justiça climática e uma cultura de direitos humanos.

Para o coordenador nacional do Movimento Negro Evangélico do Brasil é Jackson Augusto e articulador do programa Martin Luther King de Formação e Incidência Política e integra a Coalizão Negra por Direitos, Jackson Augusto, a realização da conferência é um passo essencial na construção de um evangelho que dialogue com a justiça racial: “Este encontro é fundamental para que a comunidade negra evangélica compreenda que a negritude também é um direito nosso. Falar contra o racismo e defender a justiça racial deve ser um compromisso radical do evangelho de Jesus e da sua igreja.”

A Conferência Enegrecer reafirmou o compromisso da comunidade evangélica negra com a construção de uma espiritualidade libertadora, crítica e engajada. Mais do que um evento, a iniciativa busca fortalecer redes de colaboração e impulsionar a produção acadêmica e pastoral a partir de uma perspectiva negra e periférica.

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