Campos dos Goytacazes sedia o 7º Encontro Estadual das Comunidades Quilombolas do RJ

Encontro foi marcado por palestras, debates e eleição da diretoria da Acquilerj

 

Participantes do 7º Encontro Estadual das Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro

Crédito: Arquivo KOINONIA

Entre os dias 3 e 6 de julho, ocorreu em Campos dos Goytacazes o 7º Encontro Estadual das Comunidades Quilombolas do Rio de Janeiro, reunindo representantes da Acquilerj de diversas regiões do estado para debater, articular e fortalecer ações pela defesa dos territórios, da cultura e identidade quilombola.

O primeiro dia de evento foi marcado por uma solenidade na Câmara de Vereadores da cidade in memorium a Lucimara Muniz, liderança da comunidade de Custodópolis, mas que também teve uma atuação importante em nível nacional, como integrante da coordenação executiva da CONAQ. A presidenta da Acquilerj, Bia Nunes, conduziu a cerimônia e chamou à frente diversas lideranças que puderam se pronunciar e prestar homenagem a Lucimara.

Bia Nunes e outras lideranças da Acquilerj em solenidade in memorium à Lucimara Muniz, na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes

Crédito: Arquivo KOINONIA

O momento foi de grande emoção e contou ainda com a estreia do documentário “Raízes Quilombolas”, disponível no canal do Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Noroeste Fluminense (IDANNF) no YouTube.

“Lucimara foi quem me trouxe para o movimento. Ela tinha muita energia e nos empurrava para a luta. Às vezes a gente até brigava, porque ela não deixava a gente nem respirar. Mas tinha que ser assim mesmo, porque são muitas batalhas. Agradeço por tudo o que ela fez. Foi uma grande perda, mas justamente não podemos recuar, para honrar a memória dela”, declarou Maria de Lourdes, outra liderança de Custodópolis.

Nos dias seguintes, a programação se espalhou pelo campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e contou com palestras, rodas de conversa e painéis que reuniram lideranças quilombolas, pesquisadores, organizações parceiras e representantes do poder público, como o Incra e o Ministério Público Federal.

Maria Lúcia Pontes (à direita), Superintendente Regional do Incra, e Elisa Ribeiro (à esquerda), Chefe da Divisão Quilombola do Incra/RJ, informam sobre os processos abertos na autarquia

Crédito: Arquivo Comunicação Acquilerj

Durante o encontro, foi lançado o novo logotipo da Acquilerj e apresentado um mapa georreferenciado das 54 comunidades quilombolas do estado, elaborado com a participação direta e o acompanhamento atento da diretoria da associação.

Paula Britto, da comunidade de Maria Conga, apresenta o novo logotipo da Acquilerj

Crédito: Arquivo KOINONIA


A geógrafa Tatiana de Sá Freire Ferreira apresenta o mapa estadual das comunidades quilombolas

Crédito: Arquivo Comunicação Acquilerj

Painel sobre Justiça Climática. Da esquerda para a direita, Rosilane Almeida, do quilombo Camorim, Bia Nunes, Presidenta da Acquilerj, Rosa Peralta, de KOINONIA, Regina Soares, do quilombo Fazenda Espírito Santo, e Renato Kinupa, do quilombo de Bongaba.

Crédito: Arquivo KOINONIA

A advogada Maíra de Souza Moreira aborda os protocolos comunitários e o direito ao consentimento livre, prévio e informado

Crédito: Arquivo Comunicação Acquilerj

Os debates abordaram temas centrais para as comunidades, como empreendedorismo, créditos de carbono, justiça climática, o direito à consulta livre, prévia e informada, e mecanismos de proteção para defensoras de direitos humanos quilombolas.

Um dos pontos mais enfatizados foi a necessidade de consolidar a titulação coletiva dos territórios como forma de reparação histórica e como base para a preservação e a reprodução dos modos de vida ancestrais.

O encontro também foi marcado por apresentações culturais, que animaram os participantes e celebraram a riqueza da ancestralidade quilombola no território fluminense.

Apresentação Cultural da Companhia Junina do Quilombo de Custodópolis, de Campos

Crédito: Arquivo KOINONIA

No encerramento do Encontro, no dia 6 de julho, foi realizada a Assembleia Geral da Acquilerj para a eleição da nova diretoria, que ficará à frente da gestão pelos próximos quatro anos. Com ampla participação das comunidades presentes, a votação ocorreu de forma tranquila e democrática. Foi apresentada uma chapa única, composta por representantes de diferentes regiões do estado, garantindo diversidade e representatividade territorial. A chapa foi eleita por aclamação, com o compromisso de dar continuidade ao trabalho de defesa dos direitos quilombolas, acelerar a titulação das terras e fortalecer a participação das comunidades nos espaços de decisão.

Foi eleita uma diretoria composta por quilombolas de diferentes regiões do estado, garantindo representatividade territorial e renovação de liderança. Bia Nunes, da comunidade de Maria Conga (Magé), permanece na presidência, tendo como vice José Emílio Cordeira, do quilombo Pedra Bonita (na capital do Rio de Janeiro). Além dos cargos de secretaria, tesouraria, conselho fiscal, foram designadas diretorias para assuntos fundiários, cultura e juventude e diversas comissões. Entre elas: a de mulheres, população LGBTQIAPN+, comunicação, educação, pesquisa, empreendedorismo e justiça climática. A nova equipe também se comprometeu a lançar programas de formação política, especialmente voltados a jovens e mulheres, fortalecendo a representatividade de gênero e idade.

Diretoria da Acquilerj eleita para os próximos quatro anos

Crédito: Arquivo KOINONIA

A Presidenta reeleita, Bia Nunes, encerrou as atividades com uma mensagem forte e provocativa:

“A composição da diretoria e das comissões criadas aqui mostram a nossa disposição para abarcar todos os assuntos. É um recado para a sociedade da potência quilombola que existe nos territórios. As batalhas são imensas, precisamos de cada um e cada uma de vocês. É muito importante que o povo quilombola assuma a liderança nessas lutas e se apropriem da nossa associação. A Acquilerj não é apenas quem está aqui na diretoria e nas comissões. A Acquilerj é de vocês! Vamos juntos?”

O 7º Encontro Estadual das Comunidades Quilombolas do RJ encerrou-se em clima de união, expectativa e compromisso renovado. A troca de experiências e saberes, somada às ações concretas decididas na assembleia, representam um passo significativo na trajetória de fortalecimento territorial, cultural e político das comunidades. O encontro marcou também a reafirmação de que quilombolas do Rio estão prontos para defender seus territórios, cultivar sua ancestralidade e construir juntos um futuro com justiça, autonomia e desenvolvimento sustentável.



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