Nota de Pesar: Bispo Frederico Pagura

FedericoA Igreja Evangélica Metodista Argentina, a sociedade desse país, o Movimento Ecumênico internacional e latino-americano, em particular,encontram-se enlutados com o recente falecimento, aos 93 anos, daquele que foi, além de um dos grandes campeões do ecumenismo, um destacado promotor e defensor dos Direitos Humanos em seu país e no continente como um todo, o Bispo-emérito da Igreja Metodista argentina, Dom Federico José N. Pagura. Poeta, músico, pastor e profeta, cantor da esperança e lutador incansável pela humanização da vida, especialmente no âmbito da América Latina, deixou o legado inestimável de uma vida compromissada com os valores mais sensíveis do Evangelho.

Primeiro presidente do Conselho Latino-americano de Igrejas, um dos grandes frutos de seus empenhos ecumênicos, representou a região ocupando uma das presidências do Conselho Mundial de Igrejas. Ademais de destacar-se na luta contra a ditadura militar que assolou seu país, teve papel importante na busca de soluções de outros conflitos em várias regiões do continente,especialmente na América Central.

Ao expressar sua solidariedade aos seus familiares, amigos/as e a toda a comunidade ecumênica nestes momentos de dor e de saudade, Koinonia-Presença Ecumênica e Serviço tem a satisfação de compartilhar as belas palavras descritivas dessa grande personalidade escrita por um de seus amigos mais próximos, o pastor metodista uruguaio Rev. Juan Damián, também escritor e poeta:

                                        “Temos esperança!!

Parece que o vejo. Move com firmeza seu braço e a mão direita. Repete várias vezes seu ‘dedo indicador’, enquanto seu braço esquerdo se apoia na cintura.

Sua prédica é clara e contundente. Períodos longos, bem construídos, sem alterações. Quase um desenvolvimento clássico, sem sobressaltos.

Federico prepara com seriedade seu sermão. Sobe ao púlpito com suas notas preparadas, às quais segue e respeita. Ao ouvi-lo pensas seu conteúdo que te vai absorvendo. E sentes que suas convicções vão se tornando tuas. Como Jesus, fala como se tivesse autoridade. Como Jesus, te comove, te convida a segui-lo.

Seus sermões costumam serlongos, bem trabalhados, mas nunca repetidos. O Evangelho não fica no passado. É preenchido com situações, personagens, atitudes eproblemas de hoje. Como se as palavras dos evangelistas, de Paulo, estivessem sendo escritas nos jornais e ditas nos noticiários, agora mesmo.

Não apenas o que fala e diz é tão pessoal e original. Importam, ainda mais, seus gestos, suas atitudes, seu compromisso. Isto é: sua vida.

Acompanhei Federico por mais de 10 anos no CLAI. Ele presidente, dirigindo. Eu secretário de evangelização, acompanhando. Mas sendo companheiros, juntos, para além dos cargos. Com diferentes carismas. Com diferentes contribuições. Mas o mesmo caminho e os mesmos passos.

As sessões das reuniões do CLAI ele as acompanhava com extrema atenção. Sempre soube ouvir. À Igreja. Ao povo. Às pessoas.

Quando as celebrações terminavam, cumprimentava a todos do lado de fora. Nunca deixou ninguém com a palavra e o gesto cortado no ar.

Atendia a todos e todas com um cuidado de heroico dialogante. Seu tratamento era a continuação de sua prédica. A palavra e a ação sempre foram juntas, sem fórceps.

Pastor no púlpito. Pastor com todas e todos na rua e no passeio. Pastor dos pequenos, das vítimas, dos empurrados para fora. Pastor onde havia um problema ou uma ferida para cuidar, um ânimo para levantar.

Nunca deixou de dizer ou de fazer o que mandava sua consciência. Fossem fiéis, familiares de desaparecidos, perseguidos e perseguidores, ateus ou cristãos.

O ecumenismo foi seu âmbito. À vontade e cômodo, disponível a qualquer proposta ou iniciativa que se lhe apresentassem.

Esteve sempre em tantas atividades, tantos eventos, tantas comissões, tantos conselhos…e sua marca não se apagou. Ficou ali para sempre.

Onde ia Federico estava Rita, a companheira. Testemunho de amor no pequeno e no grande.

Sempre confessastes que nas raízes de teus genes se encontraram a Pacha Mama e a Europa, encontro de amor, não invasão de poder.

Federico, continuamos cantando “tua esperança”.

(Texto publicado por Ecupres – Agência de Notícias Imprensa Ecumênica – Bahia Blanca, Argentina)

Zwinglio M. Dias

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