Nesse fim de maio, durante a Semana da Diversidade Sexual, Koinonia marcou presença em dois momentos importantes de luta pelos direitos LGBT: a 16ª Feira Cultural e a 20ª Parada do Orgulho LGBT de SP, ambas realizadas pela Associação da Parada do Orgulho LGBT (APOLGBT). Para cada evento, uma forma de intervenção. Na parada, a ideia foi se juntar a religiosas e religiosos engajados no enfrentamento a todas as formas de discriminação, principalmente, à transfobia, causa eleita para mote da semana. Na feira, onde cerca de 60 stands juntavam moda, gastronomia, entretenimento, artes e militância, Koinonia propôs ao público que passou pelo Vale do Anhangabaú, local do evento, que participasse do Prevenid@s Game, jogo de tabuleiro voltado principalmente para o público jovem LGBT. Nele, a cada movimento uma dupla é desafiada por situações cotidianas que exigem respostas sobre o cuidado de si, do outro, em geral, e também relacionado às formas de prevenção da Aids e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A assessora do programa Saúde e Direitos, Ester Lisboa, destacou a importância de metodologias com linguagens mais próximas as dos jovens, com formas de educar que têm a alegria e a brincadeira como ingrediente. “Tradicionalmente o trabalho de prevenção em eventos como esses consiste em conversar e distribuir material informativo. Na feira, juntamos informação com oba-oba, porque afinal eles não precisam se opor. Tivemos até professores que participaram e todos disseram que deveríamos replicar a ação em escolas”, contou.
Camilo Seleguini foi um dos professores que jogaram. Ele, que leciona História na rede pública estadual, se animou com a possibilidade de levar a dinâmica para o ambiente escolar. “Algumas coisas eu mesmo não sabia e o jogo foi me instruindo sobre esses temas. Eu com certeza levaria para escola e trabalharia com minhas alunas e alunos”, comentou.
O Prevenid@s Game se divide em três etapas: na primeira, alternativas são apresentadas para que os jogadores respondam com “verdadeiro” ou “falso”, avançando ou retrocedendo pelas casas; na segunda, a dupla precisa se posicionar a respeito de determinadas situações; e na terceira, são feitas perguntas de múltipla escolha sobre temas como direitos, prevenção e redução de danos.
“Atividades como essa vão servindo de ponte entre as políticas e serviços de prevenção e tratamento e a população que tem apresentados os maiores índices contaminação”, explica Cristiane Alves, comunicadora do programa Saúde e Direitos de Koinonia e uma das idealizadoras do jogo. Os dados mostram que, de fato, entre os jovens gays de 18 a 24 anos, a chance de infecção por HIV é 13 vezes maior do que na população em geral. Quanto à população trans, os dados nacionais ainda são imprecisos, mas números globais mostram que a chance de uma pessoa trans adquirir HIV chega a quase 50 vezes mais do que a população geral.
A semana terminou na Parada do Orgulho LGBT, na Av. Paulista, com o grupo de religiosos carregando uma faixa que dizia “Transfobia? Não em meu nome. Não em nome de Deus”. Assim, marcaram posição sobre os discursos de ódio contra a população trans. Elas e eles se empenharam em mostrar que existem concepções de fé que não comungam dos valores da bancada evangélica, a qual parece estar em cruzada pelo banimento da cidadania da população LGBT. Durante a caminhada, cartazes com mensagens como “Jesus cura a homofobia” e “Todas as famílias cabem na família de Deus”, chamaram atenção e causaram surpresa naqueles e naquelas que ainda não sabiam da existência de religiosos comprometidos com a igualdade e justiça para todos, não importando identidade de gênero e orientação sexual.