Artigo: Outono do Brasil REAL X O Brasil do Real$

Rafael Soares de Oliveira

O outono brasileiro revelou o cair das folhas de árvores, que ocultaram nesses anos recentes uma insatisfação, presente em diferentes setores da população.

A ocultação do Brasil Real em diversos embates pela afirmação de direitos, tem sido uma equação de equilíbrio desigual, onde os interesses do lucro têm colonizado as vontades de bem estar social e bem viver.

A visibilidade ainda é um alvo a alcançar para muitos, a exemplo de:
• aquelas e aqueles que lutam por manter-se em suas casas contra os despejos às escusas dos megaeventos nas cidades;
• o ativismo dos movimentos contra a destruição da natureza, feita com a desculpa da infraestrutura, ditas inexoravelmente necessária;
• a resiliência dos movimentos por territórios justos para viver e trabalhar, como populações tradicionais, originárias e camponesas.

Mas veio à tona a insatisfação com tantos recursos disponíveis no País, cuja aplicação não considera as necessidades das maiorias – onde isenções fiscais garantem estádios de 700 a 900 milhões, para serem entregues para a privatização, e não há oferta de transporte público a preços acessíveis . No entanto se mantém as garantias de lucro para os empreendimentos das infraestruturas privatizadas.

A sustentação de um processo de crescimento com metas de 4% ao ano por governos de coalizão tem se mantido com um custo social elevado, muita criminalização de defensores e defensoras de direitos e uma desigualdade constante (ou crescente). Somam-se a isso os quase transparentes processos de privilégios de empresas e empresários, que acenam claramente para a possibilidade de corrupção, com retornos em investimentos em campanhas eleitorais.

Em suma: há insatisfação com as desigualdades de bem estar; há insatisfação com os sistemas de controle dos negócios de Estado; e há correlatamente insatisfação com os regimes de representação pactuados entre poucos – regimes de aplicação orçamentária, sistema político e desigualdades no âmbito dos julgamentos no judiciário (nem políticos e nem colarinhos brancos são punidos).

Isso não é tudo, mas é bastante do Brasil Real hoje em movimento pelas ruas. Que é uma eclosão herdeira de um longo e aquecido verão de despolitizações orquestradas pelas mesmas elites agora assustadas. Que partem para a ação com suas grandes mídias, numa tentativa de surfar no movimento, tornando-o de oposição somente ao Governo Federal.

Ainda estamos sem noção do rumo e do que nos espera para o inverno, com luzes nacionalistas, com o convívio/conflito entre fascistas e democratas nas ruas. Mas ao menos o espelho do País é menos partido, mais Real e menos Real$, tal como o marketing vinha propalando nacional e internacionalmente.

Vivas ao outono brasileiro e real! Na luta e nas contradições que nos esperam.
 

 

*Rafael Soares de Oliveira é diretor executivo de KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço
 

 

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