A forma como foi reprimida no dia de ontem, 13 de junho, a manifestação pública organizada em São Paulo contra o aumento das passagens de ônibus nos remeteu a tempos sombrios da história de nosso país. A truculência policial legitimada inclusive pela grande mídia, é algo que assusta.
Muito nos surpreendeu que uma manifestação pacífica, que tinha por objetivo expressar a contrariedade de cidadãos e cidadãs contra uma medida que afeta trabalhadores e trabalhadoras usuárias do transporte público, tenha sido combatida com tamanha violência pela polícia militar do Estado de São Paulo.
A falta de abertura para o diálogo tem sido uma postura constante nas diferentes esferas de representação. A repressão policial que se viu ontem, em São Paulo, também foi característica na repressão contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul e em outras ações Brasil afora. Parece que repressão tornou-se um padrão.
Lamentamos que as reivindicações da sociedade civil sejam tratadas não com diálogo, mas com violência. Esta postura, ao longo deste ano, foi recorrente em momentos e situações distintas: no Rio de Janeiro, por ocasião da desocupação do Museu do Índio; Mato Grosso do Sul em função das demarcações de terras e,ontem à noite, em São Paulo,após outras ações violentas realizadas pela mesma polícia, mas sem a grande repercussão da mídia.
A cultura autoritária, segue sendo uma característica do Estado brasileiro. Vale lembrar a nota do Conselho de Direitos Humanos da ONU, veiculada hoje pela manhã nos meios de comunicação, que faz uma série de recomendações para o Brasil (http://bit.ly/MYfUpB).
Entre as várias orientações, pelo menos duas têm relação direta com as medidas de repressão tomadas contra as manifestações dos movimentos sociais. A primeira orientação é o fim da polícia militar no país.A segunda propõe que a reestruturação urbana realizada por ocasião da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 seja devidamente regulada para prevenir despejos e deslocamentos populacionais.
As manifestações dos povos indígenas que assistimos nos últimos dias e a manifestação que vimos ontem, e todas as repressões e extermínios de jovens que acontecem nas periferias das cidades cotidianamente ilustram que algumas de nossas políticas seguem na contramão da garantia de direitos humanos.
Como povo brasileiro, não precisamos de super eventos para vender a imagem de país do futebol e do esporte. Sabemos que estes eventos não trarão benefícios para a população em geral. Os únicos a ganhar serão os de sempre: o mercado financeiro e os mega conglomerados empresariais.
O que desejamos é: transporte público eficiente, de qualidade e com preço acessível, que as populações afetadas pelos grandes empreendimentos sejam ouvidas e suas reivindicações atendidas. Que os governos municipais, estaduais e federal não se fechem para o diálogo e optem por um projeto de país pensando no bem-estar de sua população e não na garantia de lucro certo para aqueles que historicamente já ganham e desejam ainda mais.
Não queremos apenas circo. Queremos também pão, fruto da justiça social. Reivindicamos o cumprimento das convenções internacionais de direitos humanos. Nosso desejo é que a população seja respeitada e que políticas capazes de transformar as estruturas sociais e econômicas responsáveis pela exclusão social tornem-se reais.
Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil