O dialogo inter-religioso sob ameaça

Carolina Maciel

O encontro inter-religioso do dia 27 de março na paróquia de Saint Léon, em Paris, que reunia um relator judeu, um cristão (católico) e um muçulmano, foi fortemente perturbado. Jovens pertencentes ao Mouvement de la Jeunesse Catholique de France (ligados à Fraternidade São Pio X), muito regularmente – mais ou menos a cada 15 minutos –, perturbaram a noite interrompendo em voz alta os oradores. "É inútil ficar ouvindo o que um rabino ou um muçulmano vai fizer. Nós já o sabemos", gritava um deles, manifestando assim uma certa inaptidão à escuta… Com alguma dificuldade, a reunião pôde continuar até o fim.

O depoimento é da teóloga francesa Geneviève Comeau, membro do Conselho dos Bispos Franceses para as Relações Inter-Religiosas. O artigo foi publicado no jornal La Croix, 18-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O diálogo inter-religioso não é relativismo ou confusão, mas sim troca, em que cada um pode expressar em que acredita, no respeito ao outro. O respeito visivelmente não era o ponto forte desses perturbadores.

O diálogo inter-religioso precisa de um clima de liberdade e de confiança, assim como de um espaço democrático, em que opiniões contraditórias possam ser expressadas sem violência. Naquela noite, a democracia foi ofendida por meia dúzia de jovens que quiseram impedir que as pessoas presentes discutissem livremente entre si.

O diálogo inter-religioso contribui para remover as incompreensões e os medos recíprocos. Mas, no fim daquela noite, uma senhora muçulmana expressava o seu temor de participar novamente desses encontros, se eles forem a tal ponto obstaculizados. Ao contrário, não cedamos nunca ao medo e ao desencorajamento!

Nos últimos tempos, diversas reuniões ou conferências foram igualmente perturbadas do mesmo modo por grupos de tendência lefebvriana. Parece que estamos lidando com uma estratégia de intimidação, no momento em que a Igreja Católica festeja o 50º aniversário do Concílio Vaticano II.

O desejo de encontrar o outro e de trilhar um caminho com ele não é relativismo. "O diálogo é um caminho que conduz ao Reino", dizia João Paulo II em A missão de Cristo Redentor (n. 57). Bento XVI continuou nessa mesma linha, insistindo na paz: o diálogo é uma forma de converter a violência que se encontra em nós.

Façamos com que o medo e a violência não tenham a última palavra, e que os caminhos do encontro sempre sejam possíveis!

 

Com informações Instituto Humanitas

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