Governo Dilma titula apenas uma terra quilombola em 2011

Carolina Maciel

Durante o primeiro ano do governo de Dilma Rousseff apenas uma Terra Quilombola foi titulada pelo governo federal, de acordo com o estudo Terras Quilombolas – Balanço 2011. A publicação foi lançada nesta quarta-feira (15) pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP). A comunidade beneficiada com o título foi a Colônia São Miguel, no Mato Grosso do Sul. O placar de terras quilombolas tituladas no Brasil alcançou 110, o que significa que apenas 6% das 3 mil comunidades quilombolas que se estima existir no país conta com o título de suas terras.

A publicação Terras Quilombolas – Balanço é divulgada anualmente pela Comissão Pró-Índio de São Paulo e tem coordenação de Lúcia Andrade. A edição de 2011 foi realizada com o apoio de ICCO e Christian Aid. A Comissão Pró-Índio de São Paulo destaca dois temas no balanço do ano de 2011: a decisão do Incra de contratar empresas para realizar os estudos antropológicos de identificação das terras quilombolas a serem tituladas, e os obstáculos encontrados para dar eficácia aos decretos de desapropriação de propriedades incidentes em terras quilombolas.

Empresa de informática vence pregão do Incra

Em agosto de 2011, o Incra decidiu contratar empresas para realizar 158 relatórios antropológicos de identificação das terras quilombolas a serem tituladas, por meio de pregão eletrônico. O Incra irá investir mais de R$ 8 milhões nos contratos para a realização dos estudos, que em princípio, terão vigência de setembro de 2011 a setembro de 2012.
Conforme análise da Comissão Pró-Índio de São Paulo, a medida gera preocupação em relação à qualidade técnica dos estudos, uma vez que as empresas selecionadas não parecem dispor de expertise para a tarefa. “Até onde foi possível levantar, nenhuma delas têm experiência prévia com elaboração de estudos antropológicos”, diz um trecho da publicação.

Algumas empresas exercem um ramo de atividade bastante distante de estudos e pesquisa, como é o caso da Capital Informática Soluções e Serviços (contratada para realizar 17 estudos em Minas Gerais e Mato Grosso) e do Senai (responsável por quatro estudos na Bahia). Apenas duas empresas assumiram 61% da produção de relatório, são elas a Terra Ambiental e a Ecodimensão. A Empresa Terra Ambiental de Santa Catarina ficou responsável pelo maior número de estudos: 70 abrangendo 11 estados, o que corresponde a 44% dos estudos contratados pelo Incra.

Na análise da Comissão Pró-Índio, a medida gera dúvidas se irá de fato agilizar os processos de titulação, justificativa utilizada pelo Incra para a adoção de tal medida, já que o relatório antropológico é apenas uma das peças do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) sendo que as demais deverão ser elaboradas pela equipe do próprio Incra. “Não se sabe como o Incra planeja dar conta dessa demanda especialmente tendo em vista que em sete anos publicou apenas 147 RTIDs”, pontua a publicação.

Vigência dos decretos

Outro ponto de destaque no Balanço 2011 são as dificuldades operacionais para a efetivação dos decretos de desapropriação já assinados pela Presidência da República. Do total de 44 desapropriações por interesse social decretadas pelo governo federal até hoje, apenas 3 resultaram em titulação.

O maior problema na demora está no risco dos decretos "caducarem" já que a legislação (Lei nº 4.132 de 1962) determina o prazo de dois anos para efetivar a desapropriação, que começa a contar a partir da publicação do decreto. A desapropriação é efetivada quando há acordo entre o Incra e o proprietário ou quando a respectiva ação de desapropriação é ajuizada.

Em 2011, o prazo para efetivação de três decretos editados em 2009 venceu sem as devidas providências. “Não se sabe qual medida que o governo adotará a partir de agora para retomar os processos das comunidades Lagoinha de Baixo e Mata Cavalo, no Mato Grosso, e Lagoa do Peixe, na Bahia”, questiona a organização.


Leia na íntegra o Balanço de 2011


Com informações Brasil de Fato e Comissão Pró-Índio (CPI)

 

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