KOINONIA promove encontro de terreiros em Salvador

Carolina Maciel

 

O encontro de terreiros de candomblé realizado por KOINONIA – Presença Ecumênica e Serviço no dia 03 de setembro reuniu 89 comunidades de terreiro oriundas de distintas nações para retomar temas críticos para a sua sobrevivência e discutir processos de novas articulações que devem ser implementadas. Apresentou-se de forma recorrente no encontro a fala das lideranças em dizer que a maior parte dos problemas se configura na tormenta causada às religiões de matrizes africanas, especialmente, quando contatado que "infelizmente a intolerância religiosa cresceu, não diminuiu nos bairros".
Neste sentido, Tata Laércio do Terreiro de Jauá ressaltou a importância do trabalho desenvolvido por KOINONIA fazendo o assessoramento dos terreiros no combate à intolerância religiosa. Segundo ele se nenhuma ação fosse realizada por KOINONIA bastariam os encontros de terreiro “… que já seriam suficientes, pois congrega as comunidades de diferentes nações…”.
Outro tema discutido e agora celebrado foi o diálogo sobre o caso de mãe Gilda. Em outubro de 1999, o jornal Folha Universal, da Iurd – Igreja Universal do Reino de Deus, publicou uma foto de mãe Gilda numa matéria com o título “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Jaciara Ribeiro, Ialorixá do Terreiro Abassá de Ogum, local que anteriormente era dirigido por mãe Gilda, atribui a vitória do caso ao apoio dado por KOINONIA no caso. Segundo ela "KOINONIA foi quem me apoiou nessa luta, que hoje está encerrada". E esse caso é um símbolo de enfrentamento à intolerância religiosa.
 
No encontro foi apresentada a 22ª Edição do Jornal Fala Egbé, onde em seu editorial temas anteriormente discutidos foram os norteadores das discussões dos grupos assim como a forma de enfrentamento dos problemas apresentados. Além disso, foi destacada a necessidade de organização e articulação territorial entre terreiros da mesma região como algo que devem ser construídas. Uma forma também de estender à comunidade a luta contra intolerância religiosa. "Temos que nos juntar a todas as religiões e a quem é contra a intolerância, para isolar os intolerantes".
Infelizmente são registrados casos de intolerância religiosa, expressos desde a zombaria contra quem usa contas [cordões ritualísticos simbolizando orixás] entre outras simbologias até os casos de invasão enfurecida dos espaços sagrados, por fundamentalistas que se dizem cristãos. É cada vez mais necessário isolar esses intolerantes em seu terror e unir todas as pessoas de fé na vida e na paz, para se somarem aos agredidos e se manifestarem contra a intolerância.
 
Descaso, intolerância e agressões violentas e ambientais – Reagir é Preciso
Há muito tempo já se conhece o descaso e (des)trato aos bairros onde vive a maioria negra de Salvador e onde está a maioria dos Terreiros de Candomblé.
Infelizmente são registrados casos de intolerância religiosa, expressos desde a chacota contra quem usa contas e etc. até os casos de invasão enfurecida dos espaços sagrados, por fundamentalistas que se dizem cristãos. É cada vez mais necessário isolar esses intolerantes em seu terror e unir todas as pessoas de fé na vida e na paz, para se somarem aos agredidos e se manifestarem contra a intolerância.
Sobre o descaso destacamos o mau exemplo da região do Engenho Velho da Federação na Muriçoca, onde o Terreiro do afamado Sr. Luiz da Muriçoca (citado na literatura de Jorge Amado) está ameaçado de liquidação por cobrança de IPTU, pasmem! Depois de todas as mobilizações de 2010, declarações e atos públicos de reconhecimento pela Prefeitura da IMUNIDADE DE IMPOSTOS constitucional dos Terreiros, uma Comunidade recebe esse presente! Ou seja, todos ainda estão ameaçados!
Mais grave têm sido as reclamações quase a uma só voz, dos Terreiros que conectamos na Grande Salvador sobre o crescimento da violência armada, com o domínio criminoso dos bairros. Por terem as Comunidades um espírito territorial e serem prestadoras de serviços dentro do bairro viram alvo desses criminosos, que querem o domínio de todo o território, de cada rua, de cada evento, de cada festa que acontece, impedindo a livre circulação, a liberdade litúrgica para receber seus fiéis e que difundem o terror do envolvimento dos adolescentes e jovens com esse poder local e armado.
Some-se a esses problemas o progressivo avanço da especulação imobiliária e o descuidado com o lixo consorciado com desmatamentos, cujo grande destaque é a área de expansão na Avenida Paralela. Ali um futuro de desastre de cheias se anuncia numa próxima chuva intensa, que certamente irá atingir as comunidades das cercanias – nos bairros onde se situam Comunidades de Candomblé.
É duro admitir que após tantas conquistas dos Terreiros no Brasil e em Salvador um quadro desses se prolongue e se agrave num dos berços nacionais das Religiões Afro-brasileiras. A questão é como seguir adiante e na fé, não desistir!
Esperar as promessas das autoridades? Resolver tudo por iniciativa própria? Parece que a resposta está dada: exigir das autoridades, fazer algo, não fazer tudo, mas fazer o quê?
Para os Terreiros enfrentarem realidades tão adversas só aumentando sua organização e capacidade de luta, com planos para o futuro de acordo com os interesses dos seus bairros e da sua vida religiosa. As comunidades são muitas, mas se comunicam pouco, são fortes em redes de comunidades filhas, irmãs e parentes, mas não se expressam…
Fica então o desafio: como fazer com que as forças das comunidades sejam aproveitadas e somadas em prol do bem comum, que é o compromisso permanente de todas as pessoas de fé?
 
 
Leia mais sobre a 22ª Edição do jornal Fala Egbé:
Publicado desde 2003, o informativo Fala Egbé destina-se às Comunidades de Terreiros de Candomblé e a redes de solidariedade, ecumênicas e da sociedade em geral. Relata as atividades desenvolvidas em Salvador e adjacências por KOINONIA; registra o andamento dos processos jurídicos dos terreiros atendidos, as ações dedicadas à formação para a defesa de direitos, as capacitações para desenvolvimento local e as discussões do conjunto de Comunidades atendidas, para superar a intolerância religiosa. Além disso, reúne informações e dados históricos sobre terreiros participantes, procurando dessa forma contribuir para o reconhecimento e resgate da história dessas comunidades. Fala Egbé é publicado três vezes ao ano – março, agosto e novembro – e é produzido pelo programa Egbé Territórios Negros

 

Com informações Fafá Araújo, colaborador de KOINONIA/BA

 

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