Manoela Vianna
Candomblé Diálogos Fraternos para Superar a Intolerância Religiosa é o registro de um consenso criado por 120 casas de Terreiros de Candomblé sobre temas polêmicos que envolvem a religião. Nas linhas abaixo, Rafael Soares de Oliveira, organizador do livro, Secretário Executivo de KOINONIA e coordenador do Programa Egbé Territórios Negros fala um pouco do sentido dessa publicação.
KOINONIA: Esta é uma edição revista e ampliada do livro Candomblé – Diálogos Fraternos para Superar a Intolerância Religiosa. Por que decidiu-se pela reedição?
Rafael: Os conteúdos dos livros foram elaborados durante um longo processo de discussão entre os Terreiros. Nos últimos dois anos acumulamos dois novos temas [“sacrifício ou Sacrifício?” e “Feitiço” ]. Assim, consideramos que não seria eficaz divulgarmos os resultados apenas desses dois assuntos, por isso resolvemos lançar uma nova edição do livro trazendo novamente os outros temas que também são muito importantes. Além disso, incorporamos um novo capítulo sobre o Programa [Egbé Territórios Negros].
KOINONIA: O livro foi escrito por mais de cem pessoas, representantes de Terreiros de Salvador. Como foi esse processo coletivo de produção da publicação?
Rafael: Nós fazemos reuniões periódicas [Encontros que reúnem os Terreiros atendidos pelo Programa Egbé Territórios Negros] para monitoramente do Programa e reflexão. Nessas reuniões elegemos um tema e abrimos espaços para debates. Na reunião seguinte o tema é discutido, o debate é gravado e desse material produzimos um texto. Por último, o texto elaborado é discutido e criticado. Assim, a produção do conteúdo de cada capítulo foi feita em três reuniões, o que acontece em um ano.
KOINONIA: Quais foram as principais dificuldades enfrentadas para produzir esse livro?
Rafael: Tratar de certos assuntos sem que se tornasse uma revelação pública de elementos privados da ritualística do Candomblé.
KOINONIA: Com que faces a intolerância religiosa aparece no Brasil?
Rafael: Aparece com os conflitos gerados por expressões fundamentalistas do cristianismo, especialmente pentecostais, que reificam a demonização das religiões afro-brasileiras. Vale lembrar que essa demonização está em nossa cultura como fruto de um racismo contra as expressões religiosas de matriz africana. Os pentecostais realimentam, reinventam esse racismo.
KOINONIA: Como esse livro pode contribuir para a superação da intolerância religiosa no Brasil?
Rafael: Os temas tratados no livro são essencialmente os mais usados contra a religiosidade afro-brasileira. O livro também expressa a relação do Candomblé com alguns temas importantes para a sociedade, como gênero e ecumenismo.
KOINONIA: Qual a importância dessa publicação para os Terreiros de Candomblé?
Rafael: O livro expressa um consenso entre um grupo de Terreiros que humildemente tornaram públicas suas opiniões. Isso facilita o diálogo com a sociedade. Mas não há um só Candomblé. Esse consenso fala desse Candomblé. A autoridade do livro está na sua diversidade: diferentes nações; diferentes tamanhos de Casas [de Candomblé]; diferentes redes de Terreiros; diferentes expressões. Isso não é muito comum devido às noções de hierarquia. Para as Casas, o respeito e a fraternidade entre os diferentes Terreiros e entre os Terreiros e as outras religiões deve começar dentro do Candomblé.
Cadomblé Diálogos Fraternos para Superar a Intolerância Religiosa está à venda na seção Livros .
Saiba mais sobre o livro lendo a notícia Candomblé – Diálogos Fraternos para superar a intolerância religiosa
Saiba como foi o lançamento da publicação lendo a notícia 25 de agosto, dia de ações do Programa Egbé