Helena Costa
“Jesus percorria toda a Galiléia ensinando nas sinagogas,
Proclamando a boa noticia do reino e curando todo
tipo de enfermidades e doenças entre o povo”.
Mateus 4,23.
Hoje é o dia reservado para apoiarmos o combate a AIDS, 1° de dezembro, Dia Mundial de Luta contra HIV/AIDS. O tema da campanha desenvolvida pela Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério de Saúde – CNDST/AIDS-MS, para esse ano é: Somos todos diferentes com direitos iguais “.
Quero convidar a Igreja no Brasil a pensarmos nesse tema, pois todas as pessoas hoje são chamadas a refletir e se solidarizar com as pessoas portadoras de AIDS.
Segundo dados do Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) existem cerca de 40,3 milhões de pessoas infectadas, em todo mundo, o que caracteriza uma epidemia, em 2005 4,9 milhões de pessoas foram infectadas. Segundo o mesmo programa, as tendências de epidemias são claras, crescendo predominantemente os casos entre mulheres, especialmente em lugares onde predomina a transmissão heterossexual.
No Brasil, às tendências de epidemia seguem um padrão de crescimento, e de número crescente de casos entre heterossexuais, especialmente mulheres, entre pessoas pobres, sendo que a epidemia se dissemina com uma velocidade cada vez maior no país.
Estima-se que no Brasil o número de casos de pessoas portadoras de AIDS acumulada desde 1980 até julho de 2006 esteja ao redor de 600 mil pessoas.
Na Comunhão Anglicana o tema começou a ser abordado desde 1994 na África do Sul, quando a AIDS foi declarada no nível de epidemia. Na África todo dia 1.500 pessoas morrem por HIV/AIDS.
Em 2001 o Arcebispo Njongonkulu Ndungane, Arcebispo Primaz da Igreja Anglicana na África do Sul declarou que toda a Província assumisse o mandato de se envolver em solidariedade às pessoas portadoras de AIDS.
Na reunião anual dos Primazes, em abril de 2002, em Cantuária, Inglaterra, os Bispos Primazes da Comunhão Anglicana endossaram o relatório produzido pela África do Sul, Nossa Visão, Nossa Esperança: O Primeiro Passo.
No mesmo ano de 2002, a Reunião do Conselho Consultivo Anglicano (ACC-12), em Hong Kong reafirmou o endosso dos Primazes e: Encorajou que as Igrejas da Comunhão Anglicana priorizassem a elaboração de programas de formação e educação; Recomendou que cada Igreja da Comunhão Anglicana desenvolvesse e adotasse plano de ação em combate a epidemia da HIV/AIDS.
Esses dados sejam internacionais ou sejam nacionais, nos colocam diante de uma reflexão: que papel a Igreja deve executar diante de um quadro desta natureza? Ou ainda, pensarmos como sermos sal e luz? Pensando na mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, “A Luz brilhou nas trevas” João 5,1. Como sermos uma comunidade de cura, uma comunidade terapêutica? “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, proclamando a boa noticias do reino e curando todo tipo de enfermidade” Mateus 4,23.
A Igreja precisa cumprir sua tarefa e missão, e, entre elas, a Igreja é chamada a ser uma comunidade terapêutica, que expressa cuidado e ajuda. Como Igreja somos chamados a consolar (2 Corintios 1,3-5), a reconciliar (2 Corintios 5,19), a amar (I Corintios 13) e a ministrar (Mateus 24,35-37)[1].
Na profecia, somos chamados a expressar o perfil do reino “O Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, enviou-me para dar uma boa noticia aos que sofrem, para curar os corações desgarrados…” Isaias 61,1-3) Como Igreja estamos equipados com o carisma do Espírito.
Como Igreja urge que vivamos o sentimento da solidariedade, pois Jesus mostra sua face de misericórdia e compaixão através de gestos concretos (João 5,1-18), se as pessoas não experimentam a solidariedade da Igreja em situações de sofrimento pessoal, acabarão duvidando da capacidade desta mesma Igreja de se solidarizar com elas em questões globais.[2]
Amar é Cuidar. Amar é servir. Amar é caminhar juntos. Amar é preparar e viver o futuro.
Em Cristo não existe diferença, e com certeza a Igreja é o canal de esperanças. A Palavra de Deus precisa ser carne e habitar entre nós (João 1,1-3). Precisamos resgatar o sentimento fundante da comunidade de Pentecostes (Atos 2). Urge resgatarmos o sentimento da Igreja como Corpo de Cristo (I Corintios 12). È indispensável reafirmarmos a vida, como caminho de verdade (João 10,10). Expressando concretamente sinais de misericórdia e compaixão “compaixão é com-padecer-se com o sofrimento do outro” Tomás de Aquino.
Com esse sentimento e na esperança de sermos uma Igreja que vive a expressão de cura, de ser terapêutica, que expressa vida especialmente em momentos de dor e sofrimento. E nesse Dia Mundial de Combate a AIDS, quero chamar a Igreja:
i) a expressar solidariedade a toda pessoa portadora de HIV/AIDS, certa que em Cristo não existe diferença;
ii) que cada diocese, paróquias e missões se envolvam em programas de solidariedade a pessoas portadoras de HIV/AIDS em seu contexto e realidade;
iii) que elaboremos nos diferentes níveis, nacional, regional e local programa de ação, educação e formação.
iv) que a tenhamos um grupo de trabalho provincial HIV/AIDS para elaborar um programa de ação na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e seja apresentado ao Conselho Executivo do Sínodo como subsidio norteador de serviço.
Que o sentimento de cuidar e de amar esteja presente em nossas relações de solidariedade.
É preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você parar pra pensar, na verdade não há. Sou uma gota d’água… Sou um grão de areia. “Pais e Filhos” – Renato Russo
Que o amor de Deus nos una,
Que a alegria de Deus nos inspire
Que a Paz de Deus nos envolva
Que a coragem de Deus nos sustente
Amém.
Com amor e solidariedade.
Do Vosso Primaz
++ Maurício, Brasília.