No dia 21 de junho, a produção de 10 comunidades quilombolas da Região dos Lagos ocupou o Largo de Santo Antônio com o evento AQUILOMBAR, divulgando a cultura quilombola entre moradores e visitantes da cidade durante do feriado de Corpus Christi. A feira é uma das atividades da parceria entre KOINONIA, por meio do projeto Comércio com Identidade patrocinado pelo Grupo Carrefour, e a Associação de Comunidades Quilombolas do estado do Rio de Janeiro (Acquilerj). A iniciativa contou ainda com o apoio da prefeitura de Cabo Frio e de instituições locais como o Museu de Arte Religiosa e Tradicional (Mart), além de pesquisadores da UFRJ, UniRio e IFF Cabo Frio.
A arte do bem-viver dos quilombos mostrou sua riqueza, desde a variedade de produtos in natura da agricultura familiar até a degustação da produção artesanal tradicional de geleias, doces, pimentas e outras delícias. O artesanato quilombola se destacou pela variedade de produtos e materiais, apresentando bonecas, brinquedos, peças de argila e fibra cipó, objetos de decoração, utilitários, bolsas, roupas e acessórios, que traduzem em beleza e arte os materiais disponíveis em seus territórios. A feira contou com a apresentação musical do grupo de cantoras e percursionistas Batuque Reciclado, do quilombo Sobara, uma oportunidade única de conhecer cantos e passos que são parte fundamental da história do país. Rosiele Vasconcelos, presidenta do quilombo Sobara, localizado em Araruama, falou sobre a importância de criar oportunidades como essa para estimular a arte de jovens das comunidades. “Criar espaços de apresentação como esse é fundamental. É uma alegria trazer nossos jovens para um evento que é nosso de fato. Aqui eles podem reconhecer seu valor e compartilhar seu talento com outros quilombos em uma troca muito rica e necessária”, disse sobre a participação do grupo no evento.
A proposta da feira é manifestar a resistência alegre e criativa dos quilombos em uma verdadeira celebração de sua expressão econômica e cultural que tem no bem-viver as máximas do convívio harmonioso com a natureza e do respeito à ancestralidade.
O evento reforça a importância de integrar as atividades de geração de renda dos quilombos à programação regular da cidade. “Os quilombos têm muito a contribuir para a economia de Cabo Frio e das cidades do seu entorno, com potencial de atração de turistas e novos recursos a partir da agricultura familiar, do artesanato e da culinária tradicional. Esta feira que reúne 10 comunidades é mais do que uma festa popular, é a manifestação política da importância de tirar os quilombos da invisibilidade”, declarou Ana Gualberto, Diretora Executiva de KOINONIA, organização responsável pelo Projeto Comércio com Identidade. “O projeto foca na geração de renda a partir da promoção do reconhecimento da potência quilombola pelas próprias comunidades e por toda a sociedade”, conclui a Diretora.
Para Bia Nunes, presidenta da Acquilerj, eventos como esse são verdadeiros atos de resistência. “As pessoas precisam conhecer a cultura quilombola, mas também entender que são comunidades que enfrentam diversos desafios para permanecer em seus territórios. É importante construir alianças fortes para essas lutas, em todas as suas frentes. Queremos que a sociedade conheça a riqueza da nossa produção, queremos políticas públicas que respeitem nossas identidades, e, principalmente, exigimos titulação já para todas as comunidades”, enfatizou.
Sob este enfoque, o evento também contou com rodas de conversa para partilha entre as comunidades presentes sobre temas que afetam sua produção, geração de renda e direitos. Diversas vozes manifestaram a importância de encontros como esse para dar visibilidade aos quilombos, demonstrando seu valor histórico para a construção da nação brasileira e sua produção de arte e cultura, fortalecendo laços entre as comunidades tradicionais. Jane Marins de Souza, artesã do quilombo de São Jacinto Campos Novos, situado em Cabo Frio, com 20 anos de atividade em produtos de fibra, declarou que a primeira vez que expôs sua arte foi no evento Aquilombar realizado no ano passado, no centro do Rio de Janeiro. “A realização desses eventos vem tirando a timidez de muitos quilombolas com reconhecimento do valor do que produzem. Isso nos dá mais coragem de buscar espaços para nossa arte e para nossa luta por direitos. Esses eventos demonstram o quanto somos importantes e eu, como mulher de fibra, tenho orgulho de estar aqui com meu trabalho”, declarou durante a roda de conversa, moderada por Bia Nunes, que convidou representantes dos diferentes quilombos a darem depoimentos.
Claudionor Alves, Diretor de Igualdade Racial, Inclusão e Diversidade e Relações Institucionais do Grupo Carrefour, esteve presente ao evento e participou das rodas de conversa, demonstrando o comprometimento do Grupo com o projeto. “Gostaria de parabenizar as comunidades aqui presentes e, principalmente, as mulheres de fibra como muitas aqui se colocaram, registrando que reconheço aqui um movimento muito potente de luta por um lugar de igualdade, respeito e valorização. São mais de 8 mil quilombos no Brasil com direitos que precisam ser assegurados e garantidos. Nesse contexto, buscar a parceria com a iniciativa privada é um caminho justo e necessário”, declarou. Também esteve presente ao evento Eduardo Senra, Consultor de Investimento Social do Carrefour.
Rosa Peralta, Assessora de Relações Institucionais de KOINONIA, encerrou o evento destacando a importância de parcerias para a continuidade do projeto e chamando a última atividade da tarde, uma roda de conversa sobre a culinária tradicional quilombola com pesquisadores da área de nutrição, gastronomia e história das universidades locais presentes.
O projeto Comércio com Identidade busca fortalecer as economias locais, valorizando a identidade quilombola e o potencial dos modos de organização comunitária tradicionais. A proposta não segue a lógica comercial predominante, mas valoriza as trocas materiais e imateriais que permitiram a essas comunidades permanecerem até o dia de hoje em seus territórios ancestrais.
Texto revisado por Rosa Peralta, Assessora para Relações Institucionais de KOINONIA.