E disse Deus: Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra.
(Gn 4.10)
As igrejas e organizações baseadas na fé que integram o Fórum Ecumênico ACT – Brasil vêm a público manifestar sua solidariedade à comunidade Kaiowá e Guarani do Tekoha Guapo’y e juntar-se ao grito de dor e indignação que ecoa sobre o sangue derramado de Vítor Fernandes e também das demais pessoas feridas por armas de fogo que se encontram hospitalizadas.
As imagens, depoimentos e relatos mostram a truculência da ação policial, que fez uso de um helicóptero como plataforma de tiro contra as famílias indígenas da retomada, incluindo crianças e idosos.
Diante disso, denunciamos:
- a ação ilegal de despejo, sem mandado judicial, praticado pela Polícia Militar (PM) de Mato Grosso do Sul no dia 24 de junho de 2022, quando um grande contingente de policiais da tropa de choque da PM de Amambai (MS) atacou crianças, jovens, idosos e famílias que, depois de anos lutando por seus direitos, decidiram retomar parte do território que lhes foi roubado;
- a tentativa de criminalização dos movimentos e dos povos originários em suas lutas por seus territórios e pelo seu direito de existir;
- a narrativa abjeta de associar os povos indígenas e sua luta legítima ao tráfico de drogas, como se isso justificasse ações violentas por parte do Estado;
- o descaso histórico e deste governo com o território dos povos originários e o desmonte das políticas indigenistas e socioambientais que têm transformado Mato Grosso do Sul, terra invadida por latifundiários e pelo agronegócio, em território de perseguição de lideranças de povos indígenas e comunidades tradicionais.
Manifestamos profunda indignação diante da omissão do governo brasileiro, que, ao omitir-se, torna-se responsável por mais um ataque aos povos indígenas, semanas após as brutalidades dos assassinatos de Bruno e Dom.
Reafirmamos o nosso compromisso com os direitos humanos, com os direitos dos povos indígenas e nos somamos às lideranças religiosas, entidades de apoio indígenas e indigenistas, igrejas e sociedade civil organizada para exigir uma investigação séria, que aponte e a responsabilize órgãos, mandantes e pessoas envolvidas neste massacre.
Nas Missões Ecumênicas que realizamos em 2015 e 2016 nos territórios Guarani-Kaiowá, vimos de perto a opressão e escutamos o clamor daquele povo. Vimos também suas lutas e resistências. Conclamamos as pessoas de fé a se unirem em solidariedade e que façam ecoar este grito por justiça, liberdade e por vida digna. Não nos calarão!
Brasília, 27 de junho de 2022